terça-feira, 24 de agosto de 2010

A vida tem dessa coisas

Mestre em confusões, Jerônimo sempre se envolvia em alguma roubada, não que ele fosse arruaceiro ou briguento, não, muito pelo contrário. Jerônimo sempre foi um bom garoto, não gostava de brigas, assistia as corridas de fórmula 1 pela manhã no domingo, gostava de comer a sobremesa antes da refeição principal, e tinha a estranha mania de chegar em todos os seus compromissos com 5 minutos adiantado (atrasado??? NUNCA).

E para alguém que vivia decorando placas de carro e que folheava as revistas de traz pra frente, Jerônimo levava a vida numa boa, exceto por alguma confusãozinha aqui ou outra ali por causa de sua pressa.

E foi em uma dessas “confusões” que Jerônimo conheceu Albertina.

* *

Albertina era uma garota simples, sempre andava cabisbaixa contando os passos, nunca, mais nunca mesmo, pisava sobre as rachaduras do passeio, do piso, ou do asfalto, adorava comer iogurte com leite condensado e detestava roupa íntima pendurada no registro do chuveiro. E foi em uma de suas caminhadas pelo centro da cidade olhando para o chão tentando desviar de uma rachadura enorme enquanto atravessava a rua que viu Jerônimo. “Como pode alguém brilhar assim?” pensou ela. E não conseguiu desviar seus olhos, sua respiração alterou, seu coração acelerou e pareceu que dependeria daquele ser brilhante o resto da vida para continuar a ser feliz. Era amor a primeira vista. E então ela se lembrou que naquela altura da faixa havia uma rachadura tremenda no asfalto, a rainha de todas elas, aquela em que Albertina se vangloriava de evitar, seu mérito particular diário. E então ficou dividida, ou continuava a olhar para o chão ou para Jerônimo, e pareceu que aqueles foram os 3 segundos mais longos do mundo. “Pro chão? Ou pra frente? Pro asfalto? Ou pro carinha?”.

* *

Do outro lado da avenida, atravessando o cruzamento vinha Jerônimo, apressado pra chegar à faculdade, não dispunha de muito tempo e... de repente... não havia mais tempo, não havia mais relógios, não havia mais 5, 10, 30 minutos para lugar nenhum, vindo em direção contrária à sua ele viu a mulher mais bonita da sua vida. Foi amor a primeira vista, e pensar em pontualidade lhe pareceu a coisa mais medíocre do mundo. E Então, como um relâmpago, quando a garota desviou os olhos por um segundo para o chão, lhe veio uma lembrança, de início parecia terrível ter que pensar em alguma coisa, mas e seu compromisso? “A aula? Ou a garota? O relógio no pulso? Ou olhar pra frente?”.

Quando ambos deram pó si já estavam frente a frente e acabaram se esbarrando; Albertina acabou pisando na rachadura (e o mundo não acabou por conta disso!), Se levantaram rindo, se desculparam, conservaram o brilho no olho, e Jerônimo se atrasou quando a convidou para tomar um suco na lanchonete da esquina para que pudessem se conhecer melhor .

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Jerônimo acabou perdendo a aula naquela tarde e muitos outros compromissos desde que começou o namoro com Albertina que, aliás, parou de vez de contar passos ou evitar rachaduras, acompanhada do seu namorado passou a sempre andar de cabeça erguida, rindo e conversando.

O que os dois não sabem é como os passos e as rachaduras sentem falta de Albertina, e como as pessoas reclamam dos atrasos do Jerônimo, mas isso já é outra história.

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